segunda-feira, 5 de abril de 2010

A Bacia das almas


Ler é um grande perigo. Há quem diga que a leitura é o principal instrumento de libertação, desde que instigue o desenvolvimento das ideias. Talvez não seja um exagero, não há como negar que muitas transformações já se deram através de uma simples leitura.

Há leituras e leituras. Existem aquelas que acalmam o coração; as que promovem sentimentos bons; as que instigam revoluções internas e externas; ou as que não causam efeito nenhum, não dizem absolutamente nada, existem apenas para serem vendidas, dançam a música que o mercado capitalista toca.



Aceitei o desafio de ler um livro que jamais será visto entre os que nada dizem, pelo contrário, diz até mais do que deveria. Leitura daquelas que exigem do leitor coragem, estômago e equilíbrio; sem estes elementos, ao ler tal obra, ou você desiste de (quase) tudo que tem por verdade absoluta ou queima o livro na fogueira mais próxima - bem ao estilo papal, na idade média. Falo do livro A Bacia das Almas. Obra de Paulo Brabo, publicada pela Editora Mundo Cristão. Trata-se da coletânea de alguns textos (na linguagem internética e blogueira: posts) extraídos do Blog A Bacia das Almas, do mesmo autor do livro.

Vou logo confessando que tive de ler e reler muita coisa. Não sei se pela linguagem ou pela complexidade das ideias, mas há no livro alguns textos ou trechos de textos que exigiram algumas horas de reflexão, olhos para o alto e administração das muitas perguntas que encheram os espaços vagos da mente.

Com uma linguagem de rompimento, isto é, abandono e reformulação de ideias, “A Bacia das Almas” é uma bomba na cabeça de qualquer (aspirante a) pensador. Questiona com propriedade muitos pontos até então pacíficos e imutáveis da teologia, da vida e, pasmem, até de Deus. É, sem dúvidas, daquelas obras que não recomendo a qualquer um, assim como não recomendo algumas comidas a quem tem estômago frágil, talvez o resultado de ambas as experiências seja semelhante. A começar do subtítulo - que o autor diz ser uma frase posta porque tinha de vender o livro, mas, brincadeiras à parte, resume o livro -, “lições de um ex-dependente da igreja“, até a última linha do livro são tantas ideias, confissões, reflexões e contestações, que os livros todos desse mundo não dariam conta de registrar tanta repercussão oriunda da leitura - permitam-me a alusão às palavras do Apóstolo João quanto as coisas que Cristo fez, talvez assim você consiga dirimir o conteúdo do livro.

Embora a proposta meio indigesta da obra, não há como não mencionar a excelência com a qual o autor escreve. Textos diretos, dinâmicos e muito bem feitos, daqueles que te prendem e só te soltam quando terminam, e ainda deixam, em sua maioria, com desejo de quero mais. É claro que não concordei com tudo - o autor não ficaria feliz se eu concordasse -, mas não dá pra dizer outra coisa diferente do livro que não seja uma instigação à revolução. Sim, o livro é um tratado revolucionário. Mas não pense que é qualquer revolução, é a revolução do evangelho, jamais no todo, é claro, mas minimamente um bom começo para revermos muita coisa dita (e feita) pela cristandade.

Bem, eu poderia escrever mais, dar mais características, refletir sobre pontos fundamentais do livro, mas ler Paulo Brabo foi uma aventura tão grande que ainda estou me recompondo. Não posso dizer que muitas daquelas ideias eu jamais tive, não dá pra negar que pensei muitas daquelas ideias antes de lê-lo, contudo a excelência (não acho outro adjetivo) com a qual o Brabo escreve me dá vergonha de escrever. Entre muita coisa repensada, meu estilo de escrita, meu jeito de colocar as palavras e elaborar as frases, meus erros e acertos de português, (quase) tudo foi confrontado, nada que me faça perder a minha originalidade, mas muito que me fez escrever, e até blogar, com mais inteligência.

Enfim, ler “A Bacia das Almas” é um grande risco, pode causar "a revolução" em quase tudo que se tem por certo e jamais questionado. Fica a dica, mas muito cuidado com os efeitos.

N'Ele que respeita o que os outros pensam e continua sendo Deus imutável...
Uélinton

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